“Mudança” é daquelas buzzwords que nos está constantemente a tiritar ao ouvido.
Mudemos para Mudarmos o Mundo!
Frequentemente ouvimos amigos, colegas ou familiares com expressões do género: Temos de Mudar, o Mundo está a Mudar, Devias Ser assim..., não Devias Ser assado...Faz o que te digo...Segue os meus conselhos...Sê o que eu acho que sei ser melhor para Ti...Cresce, Evolui, Transforma-te, Desenvolve-te...
Já todos ouvimos ou lemos que “A única coisa permanente é a Mudança”. É verdade! E Daí?
É óbvio que tudo está sempre em mudança, a temperatura do corpo, as células que morrem e as que nascem no nosso corpo, o nosso estado de humor, a nossa energia ao longo do dia, o clima, os “mercados”, a dinâmica relacional, as possibilidades no nosso trabalho, os nossos recursos, as nossas habilidades...tudo em mudança. A nossa percepção do tempo, a órbita da Terra, as explosões solares, os eclipses, as estações, as fases da Lua, e tudo o mais que sabemos estar a acontecer, mas para o qual dedicamos normalmente pouca atenção, e ainda assim...tudo em mudança.
A questão não passa tanto por aí, mas sobretudo pela consciência e intenção que assistem às mudanças que vivemos ou procuramos viver nas nossas vidas, porque...
...Todos ansiamos por um modo de vida pelo qual queremos Viver - e isso impele-nos à mudança.
Mas tipicamente esta mudança é no espectro do Ter ou do Fazer – tal como os nossos ídolos, sejam eles reais ou imaginários, quando criados na ficção do cinema ou da publicidade. É como nos Rebanhos (atenção que apresento isto como uma metáfora, não estou a querer ofender ninguém). Estamos a procurar seguir o movimento do rebanho, tentando Ser e Fazer aquilo que os que vão à frente Fazem ou Têm. Todos fazemos Méé no rebanho da tribo que é encabeçada pelo nosso ídolo (seja religioso, de moda, empresarial, desportivo, de performance sexual, de beleza estética, de poderio político, de risco na vida, de experiência radical, de filosofia conceptual, de nível de gratidão, de estado de iluminação, etc.), e o “sistema em que vivemos” são os cães pastores que nos “orientam”. Sabendo que o nosso desejo secreto é porventura o de ser um novo “Pastor do Rebanho” e lançar uma nova versão do Méé - a nossa Versão.
Este é o ambiente altamente competitivo em que somos educados a adaptar-nos e a viver. Desde tenra idade no seio das nossas famílias, passando pelas escolas e locais de trabalho. O mundo máquina, em que se não és o chefe-mestre (CEO), pelo menos que sejas um chefe com sigla de três letras começadas por C ou então Vice-qualquer coisa, ou então és gestor ou manager de alguma coisa, nem que seja da manutenção do aquário do departamento, e no limite “operário” com desejos a ser chefe de alguma coisa, mas sobretudo, de “alguém”.
A Mudança que se quer Mudar em cada Um de Nós e nas nossas relações. Vamos agora focar-nos mais na mudança pessoal. A tua mudança singular, que neste artigo te convida a reconheceres e buscares a tua dança particular. A tua assinatura de Vida. Isto significa buscares Viver pela mais bela expressão de quem tu És. E neste sentido não falo da mudar pelo que se quer Ter ou Fazer, mas sim de mudar pelo que se quer Ser, o que trará óbvias consequências ao nível das outras duas dimensões. E viver de acordo com essa expressão de ser a mais bela expressão de Ti mesmo provavelmente leva-te a enfrentares os teus maiores medos.
Quem te Queres Tornar? Reflecte sobre esta questão e se o sentires pertinente, escreve espontaneamente acerca disso. Fala contigo, para ti. Escuta-te através das tuas palavras soltas sobre um papel em modo livre.
Há uma dor que surge, quando dentro de nós a vontade de mudar para essa mais bela expressão, luta contra o medo de mudar. E esse medo paralisa-nos, mantendo-nos cristalizados no modo de ser, estar, fazer a que estamos habituados, por mais que os resultados e consequências das nossas acções sejam por nós, ou os demais, vistas como não desejáveis.
Normalmente não sabemos donde partimos, excepto quanto ao mundo material. Geralmente temos uma ideia feita de quem nós somos, muito cristalizada e baseada num passado contável numa conversa alargada de café.
Naturalmente que haverá muito que dizer e escrever acerca de mudança, e sem pretender extenuar quem acompanha este artigo vou invocar algumas dimensões práticas que concorrem para que cada um de nós encete Mudança ao nível de Comportamentos (uma particular dimensão de sermos). A influência pode vir de qualquer uma das 4 dimensões apresentadas, mas será uma mudança integralmente informada e reforçada se estimulada pelas 4 dimensões simultaneamente.
A um nível puramente subjectivo, e logo por isso não observável, podemos afirmar que:
- Há que nos apercebermos dos riscos, com as devidas consequências por não imprimir a mudança;
- Temos de acreditar que o “novo comportamento” a introduzir baixará os riscos ou prevenirá o problema que existe pela existência do “comportamento actual”;
- Há que considerar as vantagens/benefícios do novo comportamento serem maiores que as desvantagens/custos da mudança;
- Temos de ter razões para mudar que ressoam com o nosso sistema de valores, a ligação da nossa moral e ética;
- Precisamos de intencionar praticar o comportamento;
- Precisamos de acreditar que podemos aplicar e praticar o comportamento;
- Há que sentir que a mudança é consistente com a nossa auto-imagem, actual ou futura;
- Prioritizar a intenção para agir sobre todas as outras intenções ao mesmo tempo;
A um nível puramente objectivo, e portanto, totalmente observável:
- Temos de ser suficientemente desenvolvidos ao nível cerebral (capacidades mentais) e do organismo (capacidades biológicas e físicas) para poder aplicar e praticar o comportamento;
- Temos de possuir as habilidades necessárias;
- Temos de ter a energia requerida e a saúde física e saúde emocional;
- Fazê-lo - realmente comportarmo-nos como intencionado;
Mas depois também vêm as questões culturais, os nossos princípios e valores partilhados colectivamente, os nossos comportamentos partilhados aceitáveis dentro do grande grupo que formamos como cultura.
- Há que entender aquilo que está a ser requerido (linguagem comum, contexto comum);
- Há que entender a existência de uma pressão social para aplicar o comportamento que é maior que a pressão de não o praticar (estigma em torno do comportamento antigo e suporte ao novo comportamento);
- Há que perspectivar e identificar o novo comportamento com uma norma social.
E por fim as nossas dinâmicas sociais, ao nível dos sistemas que temos em prática pra nos permitirmos viver juntos de uma forma “razoavelmente funcional”.
E aqui temos desejavelmente de experienciar muito menores barreiras sistémicas a aplicar o comportamento do que a não aplicá-lo (sistemas sociais e económicos de suporte), e dinâmicas que tornam fácil vivenciar e praticar o novo comportamento.
Porque aprecio não apenas abordar o tema pela via conceptual, vamos ver isto com um exemplo prático:
Escolho o exemplo da adição do tabaco. Primeiro porque ao contrário do que muitos dizem, não se trata apenas de algo que se Faz, mas de algo que alguém se Torna pela imensidão de implicações que tem nas nossas Vidas. Não se Fuma...É-Se fumador... está-Se geralmente controlado pelo vício, sujeitos à tirania dos factores aditivos. Também trago este exemplo porque é algo que pratiquei durante longos anos e, embora já me tenha liberto dele faz muitos anos também, ainda assisto à sua promoção, consumo e consequências como uma calamidade nas nossas vidas partilhadas colectivamente. Foi importante fazer o exercício porque reforçou muitas das vantagens de ter abdicado de praticar este comportamento. Vou procurar tornar conscientes tanto quanto possível as vantagens em cada uma das dimensões anteriormente referidas. E com isso vermos como a mudança pode estar amplamente suportada em perspectiva, ou seja, informada por intenção e consciência.
Exercício: Mudança de Comportamento – “Deixar de fumar”. Estímulos multi-perspectiva indutores à mudança;
E vou usar como “referência” o consumo diário de um maço de cigarros com um custo unitário de 5€.
Dimensões subjectivas, não observáveis, mas existentes:
- Tomarmos a Decisão de Deixar de Fumar;
- Terminar com a Vergonha por fumar, o Sentirmo-nos mal connosco mesmos;
- Terminar com a Poluição do nosso corpo físico;
- Acreditar que ganhamos longevidade por deixar de fumar;
- Acreditar que ganhamos qualidade de vida por deixar de fumar;
- Acreditar na Capacidade pessoal de deixar de fumar e não voltar a reincidir na prática;
- Não mais precisar de me esconder atrás do fumo;
- Não mais precisar de pôr uma cortina de fumo que me impede de ver o Mundo e aquilo que acontece à minha volta;
- Não mais preencher os meus Vazios com algo que me destrói;
- Valorizar o meu Bem-estar;
- Aceitarmo-nos como somos, não precisando de fumar para pertencer a um grupo ou ter status;
- Sentirmo-nos melhor connosco mesmo porque é maior a Força de Vontade em Deixar de Fumar que a “Força da Falta de Vontade” em manter o vício;
- Termos mais disponibilidade para nós, porque não estamos às mercês de um “monstrinho” que nos pede “alimento dito nicotina e demais químicos”;
- Deixamos de estar ansiosos pelo momento em que podemos estar num lugar onde seja possível fumar;
- Gostarmos de nós sem “o adereço cigarro colocado”;
- ...
Dimensões objectivas, observáveis;
- Comunicar a nossa decisão de Deixar de Fumar ganhando pela exposição pública um reforço do compromisso;
- Energia, motivação e disposição para aguentar os sintomas de “privação” inicial;
- Unhas limpas do amarelo da nicotina;
- Mais tempo disponível – se cada cigarro lhe demora 5m a fumar, o maço diário de referência são 100 minutos. Ao fim de um mês são 50 horas que pôde usar de outro modo. Ao fim de um ano são 600 horas. Repare na imensidão de tempo que se “ganha” por deixar de fumar. “Nós que estamos sempre a dizer que não temos tempo...”
- Mais dinheiro disponível: Se cada maço diário custa 5€, ao fim de um mês gastam-se 150€, e ao fim de um ano 1825€. É muito dinheiro, que pode dar para nos fazer agir com dimensões mais saudáveis e felizes. Tendo em conta um salário médio liquido em Portugal de 1100€, custear o tabaco representa mais de 10% de todos os ganhos. Muito significativo. Ao fim de 10 anos são mais de 18250€. É uma fortuna só para os adquirir...71.112 cigarros em 10 anos;
- Desaparece o mau hálito, que é muito desagradável para quem tem que estar ao pé de quem fuma. Pior para quem beija uma pessoa que fume;
- Desaparece o cheiro na roupa, no carro, no escritório…etc;
- Desaparecem as manchas e queimaduras na roupa, no carro e nos sofás;
- Deixamos de criar pretextos alimentares para poder fumar - Comer para fumar;
- Deixamos de criar interrupções no trabalho para ir fumar – pausas forçadas para fumar;
- Não mais precisarmos de ter o cigarro aceso para ter as mãos ocupadas e estarmos distraídos…;
- Mais clareza da nossa acção no Mundo. Estamos menos envoltos em “nevoeiro”;
- ...
Dimensões Culturais
- Fumar já não é visto como sinal de progresso, erudição e civilidade; É crescentemente e amplamente condenável!;
- Fumar é visto como algo que contamina a Saúde Colectiva. Deixar de fumar promove e valoriza o Bem-estar colectivo;
- Fumar é incitado a ser feito em locais de “segregação”. Ao deixar de Fumar passa-se a poder estar em qualquer lugar...excepto nos sítios especialmente dedicados aos fumadores…;
- Permitir-nos provisoriamente afastar-nos dos lugares, ambientes, contextos onde haja um convite implícito a fumar e onde as pessoas se refugiem no acto de fumar intensamente;
- Paramos de criar constrangimento àqueles que connosco convivem, nomeadamente na relação intima, na família, amigos e colegas de trabalho;
- ...
Dimensões Sociais
- Quem deixa de Fumar promove um ambiente mais Limpo (fumo, beatas e pacotes de cigarros que desaparecem);
- Algumas Seguradoras penalizam os Fumadores. Deixar de fumar liberta-nos destas penalidades;
- Deixamos de estar sujeitos a uma publicidade subtil para que se fume - por exemplo ídolos de cinema a fumar;
- Deixamos de estar sujeitos a uma publicidade de “consciência” para que não se Fume (mensagens nos maços de tabaco tal como “Fumar Mata”);
- Deixamos de estar limitados no uso de espaços por não mais estarmos sujeitos a segregação;
- Deixamos de estar sujeitos às leis anti-tabaco e às multas por incumprimento.
Curioso que é fácil encontrar vantagens para estabelecer uma Mudança de Comportamento no sentido de “Deixar de Fumar”. Consegues agora fazer o exercício oposto permitindo-te encontrar a multi-perspectiva de vantagens na mudança de comportamento para “Passar a Fumar”?
Eu não encontro qualquer vantagem...no acto de passar a fumar...
Mudemos com intenção e consciência no cumprirmo-nos na expressão mais bela de quem somos. Informados integralmente por tantas perspectivas quanto a nossa consciência nos permita. Essa consciencialização poderá, uma vez integrada, produzir novas decisões e estas levarem-nos a novas acções com novos impactos na relação que temos connosco mesmos e com os múltiplos intervenientes em elos relacionais que temos estabelecidos. A partir daí há que dar consistência aos novos comportamentos, mantendo a sua prática reflectida.
Boas mudanças, e se quiseres apoio em qualquer uma tua mudança, contacta-nos em Elos d´Eros. Estamos aqui para te apoiar.
Cultivando Amor, aos molhos, nas relações humanas.