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O que significa Ser Autêntico? Perspectivas Humanas da Autenticidade.

O que significa Ser Autêntico? Perspectivas Humanas da Autenticidade.

Fala-se hoje em dia na palavra Autenticidade, cada vez mais, em mais contextos e em diferentes meios de comunicação, como um elemento caracterizador do novo Ser-Se Humano. É quase que um convite, mas cada vez mais, também uma subtil exigência. 

Autenticidade remete-nos em primeira instância para aquilo que é genuíno, fiel à origem, pretendendo afirmar uma expressão de alinhamento ao que é de Essência, ao que é de Verdade – “Agora aquilo que te vou dizer é mesmo honesto...” assumido sem Medos e manifesto, desejavelmente em Amor; ao que nos mostra Sermos íntegros connosco mesmos. 

Mas Autenticidade também nos remete para Autenticação, e aí surge a questão, quem, e como, efectua a Autenticação da nossa Autenticidade?

Autenticidade humana nunca pode ser comprovada como um dado absoluto (cientificável, já que gosto de inventar palavras) na medida em que não é mensurável, logo não é uma proposição de assunção universal enquanto Verdade. Não é possível dizermos que alguém é 10% autêntico, ou que a minha autenticidade pesa 21Kg...

Não sabemos como as coisas são (plenamente). Só sabemos como as observamos ou como as interpretamos. Vivemos em mundos interpretativos, os nossos e os dos outros.

Temos por isso de nos manter no terreno do subtil, do subjectivo, experienciável e logo convocar a dimensão de veracidade e confiabilidade, uns nos outros. 

E autenticidade é algo que se é ou é algo que se pratica? Porque se se É, então é permanente, sempre e em todas as circunstâncias em que estamos presentes. E não parece que seja assim! Pois não? Autenticidade é algo que se pratica, portanto não podemos dizer que És (no sentido absoluto) mas antes que estás a Ser, no sentido relativo do contexto.

Ontologicamente Autenticidade é uma condição de viver dos juízos próprios, de converter-se em quem estabelece a medida das suas próprias acções, e da consequência das mesmas. Ser autêntico é um ato de coragem — um exercício diário de integridade pessoal.

E isto remete-nos então para um conjunto de perspectivas acerca do tema:

O que Significa eu Saber-me Autêntico:

- Como valorizo, sinto e penso o alinhamento entre as minhas conversas privadas (as que tenho comigo mesmo, seja em silêncio, seja em voz alta) e as minhas conversas públicas (as que tenho com outros humanos): quanto menor a diferença (gap) entre elas, mais autêntico eu me sei. Não havendo qualquer diferença (zero gap), vislumbra-se total autenticidade, naquele momento;

- Significa também que a minha experiência de mim mesmo é de paz, tranquilidade e felicidade por estar a saber-me honesto e alinhado aos meus pensamentos, sentimentos, princípios e valores e movimento; e,

 - Sentir-me Eu próprio na minha Totalidade. A chamada Integridade Coerente.

O que significa eu ser Autêntico comigo mesmo: 

Significa eu não trair os meus princípios e valores, mas sobretudo as minhas intenções e sonhos,  e mais ainda, os meus chamamentos de Alma, cumprindo-me como humano nesse caminho sem trair tudo o que me nutre a Ser e sobretudo aquilo que me chama a Tornar-me.

O que significa eu Comportar-me autenticamente:

Na minha perspectiva significa dizer o que penso e mostrar o que sinto, fazer o que digo (cumprir as minhas promessas) e reconhecer o que fiz ou o que preciso de fazer. Ser responsável por tudo o que me diz respeito, mas apenas ao nível daquilo de que tenho consciência, e só 100% das vezes. Mas ser autêntico não é dizer tudo o que nos passa pela cabeça ou fazer o que nos apetece sem pensar nos outros. É mais profundo. É saber quem somos, o que sentimos, o que queremos — e viver de acordo com isso, mesmo que nem toda a gente perceba ou concorde, mas com a firme intenção de não causarmos sofrimento aos demais com as nossas escolhas.

O que Significa eu Ser Visto como Autêntico: 

A minha expressão de Ser, ser dada como confiável e verdadeira na consciência de quem comigo interage, não esquecendo que se trata, como sempre, de uma interpretação. A minha expressão física, a minha atitude comportamental, a minha actuação estar em coerência com...

E o que significa Autenticidade no nosso contexto cultural:

Significa que a nossa cultura promove, valida e celebra a autenticidade como princípio partilhado que leva a comportamentos sistemáticos de autenticidade entre os membros que a compõem; Autenticidade como valor partilhado que assista um grande grupo de pessoas. Temos sub-culturas onde isso acontece, ou pelo menos deveria acontecer, nomeadamente a partir de decreto deontológico, como exemplo na classe médica ou na classe da justiça. Mas não podemos afirmar que já é algo do domínio transversal da nossa sociedade do ponto de vista de valores e princípios. Mas cresce e expande...

E nos diferentes Sistemas da nossa sociedade, os mecanismos que desenhámos e implementámos para conseguir viver juntos:

Aí temos uma vastidão de diferentes acontecimentos. Temos um sistema Político que na sua generalidade promove tudo menos autenticidade e até celebra e recompensa o seu oposto, um sistema Económico que vai na mesma linha, e um sistema Educativo que está a fazer um imenso esforço de mudança pela inegável obsolescência dos paradigmas tidos como certos. O sistema de Saúde tem feito progressos incríveis de autenticidade, assim como o sistema Judicial, embora facilmente reconheçamos os inúmeros atentados que minam este estado de autenticidade sistémica.

Autenticidade permitida no seio do sistema familiar, do sistema de trabalho profissional, no sistema de amigos, diferentes cadeias de relações que nos convidam, inibem ou incitam, premeiam ou penalizam o acto de nos mostrarmos autênticos.

Autenticidade é a arte de aperceber o potencial, e de estar disposto, ousar até, em manifestá-lo.

Este principio implica o processo gradual de aprender a dizer a verdade acerca do que sentimos, sabemos e pensamos. É a arte de encontrar a nossa voz, seja através de outros ou de nós mesmos. Encontrar e expressar a nossa voz é apercebermo-nos do potencial que está presente e que aguarda manifestar-se através de nós.

A autenticidade manifesta-se de muitas formas. Está presente no olhar transparente, nas palavras ditas com convicção, nas decisões que se alinham com a consciência, mesmo que sejam difíceis. Um ser humano autêntico não vive para agradar, mas também não se fecha num egoísmo estéril. Vive com responsabilidade, mas sem negar a sua individualidade. É alguém que reconhece os seus limites e imperfeições, mas não se esconde atrás deles.

Ser autêntico também não significa ser estático. As pessoas crescem, mudam de ideias, evoluem. A autenticidade não está na rigidez, mas na fidelidade ao movimento interno. É saber dizer “não sei”, “mudei de opinião”, ou “isto já não me representa”. É uma dança constante entre a coerência e a transformação.

Ralph Waldo Emerson afirma: O Poder que reside nele é novo na sua natureza, e ninguém senão ele sabe o que é Aquilo de que é capaz de fazer, nem ele próprio sabe, até  ter experimentado. 

Esta é a natureza de fluxo que nos põe plenamente disponíveis ao exercício da Autenticidade. Ser o que cada momento nos pedir, total e plenamente.

À medida que fazemos isto, não mais confundimos quem nós somos com qualquer imagem que acreditamos Ser ou aquilo que nos foi dito que deveríamos ser. Contudo, ser autêntico tem um preço. Pode implicar confrontar convenções, desapontar expectativas, enfrentar rejeições. Mas aquilo que se ganha em troca — paz interior, clareza, relações verdadeiras — não tem comparação. É melhor ser rejeitado pelo que se é do que amado por uma versão distorcida de si mesmo, criada para obter aceitação social.

Nos cursos e workshops que facilito costumo dirigir aos participantes a questão “O que Significa para ti Seres Autêntic@?” Inúmeras respostas vão surgido, mas a mais recorrente tem que ver com DIZER a VERDADE...

Significará isto que passamos muito tempo a mentir uns aos outros, sabendo-nos assim  inautênticos?

Prática: vamos tocar sumariamente neste ponto para não se criar a ideia de que estamos a abordar algo intangível e sem raiz de acção concreta: Vamos Crescer em Autenticidade? 

0 - Conhece-Te a Ti mesm@! Esta é essencial e através dos processos de mentoria Elos d´Eros podes conhecer muito mais de Ti!

1 - Passar de máscaras que usas para Essência que manifestas…mostra o que se passa verdadeiramente contigo…apropriadamente e procurando não causar sofrimento;

2 - Diz o que pensas, com empatia;

3 – Mostra o que sentes, não escondas os teus sentimentos, mas salvaguarda que o fazes em ambiente “seguro”.

3 - Faz o que dizes ou disseste; cumpre as tuas promessas, as explícitas e as implícitas;

4 – Reconhece o que fizeste ou o que precisas fazer; Admite e aprende com os teus erros e celebra os teus sucessos;

5 – Aumenta a tua percepção dos momentos em que não estás a ser Autêntic@ (porque queres criar uma imagem determinada, não parecer desadequad@, tolinh@, ou porque cometeste erros, etc...)

6 – Aprende a ver-te e aos teus comportamentos com objectividade. Quais são as tuas forças e as tuas fraquezas? Como as tuas fraquezas te fazem sentir? Como reages quando és confrontad@ com as fraquezas nos outros?;

7 – Diz a verdade a ti mesm@; Respeita-te e aos acordos, promessas e sonhos que tens para ti, para te cumprires como Ser Humano.

8 – Sente a vida como um Todo de oportunidades e não como um todo de obrigações...

Num mundo onde tantas vozes competem por atenção, a voz autêntica é um farol — discreto, mas firme — a lembrar-nos quem realmente somos.

A Maior Coragem é Um ousar mostrar Ser aquilo que É! E essa expressão de Ser é a maior homenagem que cada Um pode fazer à Relação que tem consigo mesmo!

O Amor e o Poder - indutores de Mudança nas Relações

O Amor e o Poder - indutores de Mudança nas Relações

A história da humanidade é, em larga medida, uma narrativa de tensões: entre o indivíduo e o coletivo, entre o progresso e a tradição, entre o medo e a esperança., entre a ordem e o caos…Entre essas forças opostas, destaca-se uma das mais centrais e paradoxais: a oposição entre o Poder e o Amor. Tradicionalmente vistos como antagónicos — o Poder como dominação, o Amor como entrega — estes conceitos carregam em si uma tensão fecunda. No entanto, a transformação verdadeira, aquela que alcança as raízes dos sistemas e reconfigura estruturas, mudando as formas que damos como certas, exige não a negação de um em nome do outro, mas sim a sua integração.

Mudança só com Amor é inanimada e fusional - não nos Serve!

Mudança só com Poder é fragmentada e isolante - não nos Serve!

Inegável reconhecer que vivemos mudanças de uma intensidade, complexidade e velocidade atroz. Sentimo-nos ofuscados com tantas possibilidades de acontecimentos prováveis e atordoados com as possibilidades dos acontecimentos improváveis.

Nos corredores da nossa humanidade há uma luta silenciosa a ocorrer. Ela ocorre no nosso íntimo, nas nossas organizações, nos nossos países e no nosso Planeta. Silenciosa mas extremamente polarizada e extremada de acções, ou de falta delas.

Perante a imensa complexidade que nós enquanto indivíduos encerramos, vemo-nos reflectir o conflito para cada centelha de expressão de participação que temos no espaço colectivo, seja ele subjectivo (cultural), seja ele objectivo (social), mas todo ele relacional em múltiplas escalas.

Enquanto temos por um lado um impulso de nos desenvolvermos, de crescermos e de sermos independentes, autónomos e livres, - poder; temos por outro um impulso de interconectar, relacionar, comungar e curar em múltiplas expressões de intimidade - amor.

São duas dimensões que nos convocam crenças imediatas  - de um lado o Poder e do outro o Amor.

Porque achamos que sabemos o que são, ao invés de procurarmos saber como melhor as manifestar/usar.

Paul Tillich definiu o Poder como o impulso de tudo o que vive para se auto-realizar com crescente intensidade e extensividade.

E definiu o Amor como o impulso para a Unidade do que está separado.

O Poder é, antes de tudo, a capacidade de agir sobre o mundo. Max Weber definia-o como a possibilidade de impor a própria vontade mesmo contra resistências. É o instrumento que estrutura, organiza, impõe limites, estabelece ordem. O Poder, quando separado do Amor, pode tornar-se opressor: converte-se em controle, manipulação, autoritarismo e numa expressão extrema, tirania sociopática ou mesmo psicopática. Nos sistemas sociais, o Poder isolado gera instituições rígidas, políticas excludentes, e hierarquias que se alimentam da desigualdade. No entanto, não há mudança sistémica sem Poder. É ele que molda as condições materiais e simbólicas para qualquer transformação duradoura.

O Amor, por outro lado, é a energia que une, que reconhece a humanidade do outro, que cuida, escuta e acolhe. O Amor é radicalmente relacional: não impõe, propõe ou convida; não domina, oferece. Contudo, quando desligado do Poder, o Amor torna-se impotente. Sem estruturas e direcção para sustentá-lo, transforma-se em idealismo desarmado, incapaz de confrontar sistemas de exclusão e violência.

Diz o autor Adam Kahane que há uma colisão entre estas duas dimensões de impulsos. E que essa colisão no campo teórico parece fácil de resolver, mas que no campo prático não só é difícil como pode ser perigoso. Produz tensão, consternação, complexidade acrescida e conflito.

O Poder pode negar a dimensão do Amor mas não significa com isso que os problemas de separação e fragmentação se resolvam.

O Amor pode negar o Poder mas não significa com isso que os problemas de negação, opressão e abuso desapareçam.

E a questão de fundo é que esta polarização entre Poder e Amor nos bloqueia - enquanto indivíduos, enquanto casais e famílias, enquanto organizações, enquanto países, enquanto membros de uma família única interconectada que habita numa mesma casa chamada Terra.

Bloqueia-nos porque nos convencemos e nos convenceram que temos de escolher entre um ou o outro.

Os que advogam o Poder como via única vêem a dimensão do Amor como irrealista e impraticável;

Os que advogam o Amor como via única vêem a dimensão do Poder como irresponsável e opressora e por isso cancelável.

Esta visão destas dimensões da natureza humana convenientemente esquece que o Poder e o Amor têm duas facetas cada um:

O Poder pode ser generativo - quando crio, criamos “realidades” - O Poder Com… - Power With

O poder pode ser degenerativo - quando oprimo e controlo - O Poder Sobre… - Power Over

O Amor pode ser generativo - ao nos movermos em amor, com amor - inclusivo - Moving in Love

O Amor pode ser degenerativo - quando caímos por amor - exclusivo - Falling in Love

Esta dinâmica é exemplificada por Kahane na relação cultural de géneros entre Homem e Mulher:

Poder está mais ligado a uma energia masculina e é consubstanciado:

Generativamente - Quando o Homem sai de casa e vai para o trabalho para Criar algo, Construir algo;

Degenerativamente - Quando o Homem fica obcecado pela sua missão, pelo seu caminho, e com isso se desconecta/separa de colegas, amigos e família e torna-se ou um robot fraco ou um tirano;

Amor está mais ligado a uma energia feminina e é consubstanciado:

Generativamente - Quando a Mulher engravida e dá à luz - cria Vida;

Degenerativamente - quando a Mulher fica obcecada com a unidade e coesão da família, em nutri-la, que acaba por minar o Poder dos indivíduos e mais fortemente ainda, o seu próprio.

Kahane afirma que o que torna o Poder degenerativo ao invés de generativo é a Falta de Amor; 

e afirma que o que torna o Amor degenerativo ao invés de generativo é a Falta de Poder.

Esta equação está sumarizada numa frase de Martin Luther King:

“(…) Poder sem Amor é imprudente e abusivo, e Amor sem Poder é sentimental e anémico.”

É precisamente esta colisão entre Poder Imoral com Amorosidade desemPoderada que representa a grande crise dos nossos tempos! 

Resulta numa profunda crise Colectiva de intimidade! 

O Poder precisa do Amor para ser justo; o Amor precisa do Poder para ser eficaz.

Para que haja mudança sistémica — não apenas cosmética, mas de fundo — é necessário que o Poder se converta em Poder com, e não Poder sobre. Um poder que escuta, que constrói, que empodera. Por sua vez, o Amor deve assumir-se como agente político, não apenas como afeto íntimo. O Amor politizado é aquele que recusa aceitar estruturas injustas, que age para transformar o mundo em nome da dignidade comum.

Usamos recorrentemente a frase “Somos Um” mas comportamos-nos promovendo mais e mais julgamento e separação.

Estamos muito mais intencionados em controlar o Mundo, o que em si é uma vincada expressão de Poder Degenerativo, do que estamos em compreendê-lo e com isso gerarmos pertença e cooperação honrando a diferença entre cada um. 

E mesmo quando tentamos compreendê-lo é na maioria das vezes com o forte intuito de com isso, poder melhor controlá-lo.

Precisamos de abandonar a ideia de uma via única e que a outra opção é um grande erro. 

Precisamos de abraçar as duas dimensões para resolvermos qualquer questão a qualquer nível - Poder com Amor, Amor com Poder - – Poder Amoroso e Amor Poderoso;

Para co-criarmos novas realidades sociais, temos de trabalhar com estas duas forças que se encontram em tensão e que carecem de uma reconciliação permanente e criativa.

“Criar novas realidades sociais requer um impulso Amoroso para unir e um Poderoso impulso para materializar esta união. Exercer o Poder com Amor requer efectuar a mudança sistémica sem destruir aquilo que estamos a tentar nutrir.” Adam Kahane

A oposição entre Poder e Amor não precisa ser resolvida pela supremacia de um sobre o outro. Pelo contrário, é da sua tensão que nasce a força criadora necessária para mudar sistemas, relações e indivíduos. Quando o Poder se deixa humanizar pelo Amor, e quando o Amor se arma com a lucidez e a determinação do Poder, abre-se a possibilidade de construir um mundo novo, em qualquer escala.

Poder e Amor nas Relações Humanas

A tensão entre Poder e Amor não se manifesta apenas nas estruturas sociais ou nos sistemas políticos — ela habita o coração das relações humanas. Amizades, amores, relações familiares, parcerias profissionais: todas elas se constroem no delicado equilíbrio entre o desejo de influenciar o outro (Poder) e o desejo de estar em relação com ele (Amor).

Num vínculo humano, o Poder pode aparecer de forma subtil: na capacidade de definir a narrativa, de decidir os rumos da relação, de ter a última palavra. Pode ser o saber de um sobre o outro, a dependência económica ou emocional, a diferença de idade, género ou posição social. Mesmo nas relações mais amorosas, há sempre algum tipo de assimetria. E isso não é necessariamente negativo — o problema não é a existência do Poder, mas a sua recusa a dialogar com o Amor.

O Amor, quando presente, convida à escuta, ao reconhecimento do outro como sujeito. Ele resiste à tentação de dominar, mesmo quando tem o poder para tal. O Amor diz: “mesmo que eu possa impor-me, escolho convidar-te”. Ele humaniza o exercício do Poder, tornando-o vulnerável, dialogante, cuidadoso.

Por outro lado, o Amor sem Poder pode tornar-se submisso. Nas relações em que uma pessoa ama mas não se sente com legitimidade para afirmar limites, desejos ou necessidades, o Amor pode derivar para a auto-anulação. Aqui, vemos a face invisível da violência: relações em que o silêncio e o sacrifício são confundidos com cuidado. Sem Poder, o Amor não se protege — e sem Amor, o Poder não se justifica.

A maturidade relacional talvez consista, em grande parte, na arte de reconciliar essas forças. De aprender a exercer influência sem coação, de acolher sem dissolver-se, de afirmar-se sem esmagar. Num casal, por exemplo, essa dança revela-se em pequenas decisões diárias: quem cede, quem propõe, quem escuta, quem conduz. E ao longo do tempo, a relação torna-se um espaço de co-criação, onde o Amor dá direção ao Poder, e o Poder dá forma ao Amor.

Quando aplicamos esta consciência à forma como nos relacionamos — com parceiros, filhos, amigos, colegas —, começamos a construir não só relações mais justas, mas também comunidades onde a mudança sistémica começa desde o íntimo. Porque não há transformação do mundo sem transformação das relações.

Mudança Informada de Comportamentos

Mudança Informada de Comportamentos

“Mudança” é daquelas buzzwords que nos está constantemente a tiritar ao ouvido. 

Mudemos para Mudarmos o Mundo!

Frequentemente ouvimos amigos, colegas ou familiares com expressões do género: Temos de Mudar, o Mundo está a Mudar, Devias Ser assim..., não Devias Ser assado...Faz o que te digo...Segue os meus conselhos...Sê o que eu acho que sei ser melhor para Ti...Cresce, Evolui, Transforma-te, Desenvolve-te...

Já todos ouvimos ou lemos que “A única coisa permanente é a Mudança”. É verdade! E Daí?

É óbvio que tudo está sempre em mudança, a temperatura do corpo, as células que morrem e as que nascem no nosso corpo, o nosso estado de humor, a nossa energia ao longo do dia, o clima, os “mercados”, a dinâmica relacional, as possibilidades no nosso trabalho, os nossos recursos, as nossas habilidades...tudo em mudança. A nossa percepção do tempo, a órbita da Terra, as explosões solares, os eclipses, as estações, as fases da Lua, e tudo o mais que sabemos estar a acontecer, mas para o qual dedicamos normalmente pouca atenção, e ainda assim...tudo em mudança.

A questão não passa tanto por aí, mas sobretudo pela consciência e intenção que assistem às mudanças que vivemos ou procuramos viver nas nossas vidas, porque...

...Todos ansiamos por um modo de vida pelo qual queremos Viver - e isso impele-nos à mudança. 

Mas tipicamente esta mudança é no espectro do Ter ou do Fazer – tal como os nossos ídolos, sejam eles reais ou imaginários, quando criados na ficção do cinema ou da publicidade. É como nos Rebanhos (atenção que apresento isto como uma metáfora, não estou a querer ofender ninguém). Estamos a procurar seguir o movimento do rebanho, tentando Ser e Fazer aquilo que os que vão à frente Fazem ou Têm. Todos fazemos Méé no rebanho da tribo que é encabeçada pelo nosso ídolo (seja religioso, de moda, empresarial, desportivo, de performance sexual, de beleza estética, de poderio político, de risco na vida, de experiência radical, de filosofia conceptual, de nível de gratidão, de estado de iluminação, etc.), e o “sistema em que vivemos” são os cães pastores que nos “orientam”. Sabendo que o nosso desejo secreto é porventura o de ser um novo “Pastor do Rebanho” e lançar uma nova versão do Méé - a nossa Versão. 

Este é o ambiente altamente competitivo em que somos educados a adaptar-nos e a viver. Desde tenra idade no seio das nossas famílias, passando pelas escolas e locais de trabalho. O mundo máquina, em que se não és o chefe-mestre (CEO), pelo menos que sejas um chefe com sigla de três letras começadas por C ou então Vice-qualquer coisa, ou então és gestor ou manager de alguma coisa, nem que seja da manutenção do aquário do departamento, e no limite “operário” com desejos a ser chefe de alguma coisa, mas sobretudo, de “alguém”.

A Mudança que se quer Mudar em cada Um de Nós e nas nossas relações. Vamos agora focar-nos mais na mudança pessoal. A tua mudança singular, que neste artigo te convida a reconheceres e buscares a tua dança particular. A tua assinatura de Vida. Isto significa buscares Viver pela mais bela expressão de quem tu És. E neste sentido não falo da mudar pelo que se quer Ter ou Fazer, mas sim de mudar pelo que se quer Ser, o que trará óbvias consequências ao nível das outras duas dimensões. E viver de acordo com essa expressão de ser a mais bela expressão de Ti mesmo provavelmente leva-te a enfrentares os teus maiores medos.

Quem te Queres Tornar? Reflecte sobre esta questão e se o sentires pertinente, escreve espontaneamente acerca disso. Fala contigo, para ti. Escuta-te através das tuas palavras soltas sobre um papel em modo livre.

Há uma dor que surge, quando dentro de nós a vontade de mudar para essa mais bela expressão, luta contra o medo de mudar. E esse medo paralisa-nos, mantendo-nos cristalizados no modo de ser, estar, fazer a que estamos habituados, por mais que os resultados e consequências das nossas acções sejam por nós, ou os demais, vistas como não desejáveis.

Normalmente não sabemos donde partimos, excepto quanto ao mundo material. Geralmente temos uma ideia feita de quem nós somos, muito cristalizada e baseada num passado contável numa conversa alargada de café. 

Naturalmente que haverá muito que dizer e escrever acerca de mudança, e sem pretender extenuar quem acompanha este artigo vou invocar algumas dimensões práticas que concorrem para que cada um de nós encete Mudança ao nível de Comportamentos (uma particular dimensão de sermos). A influência pode vir de qualquer uma das 4 dimensões apresentadas, mas será uma mudança integralmente informada e reforçada se estimulada pelas 4 dimensões simultaneamente.

A um nível puramente subjectivo, e logo por isso não observável, podemos afirmar que:

  • Há que nos apercebermos dos riscos, com as devidas consequências por não imprimir a mudança;
  • Temos de acreditar que o “novo comportamento” a introduzir baixará os riscos ou prevenirá o problema que existe pela existência do “comportamento actual”;
  • Há que considerar as vantagens/benefícios do novo comportamento serem maiores que as desvantagens/custos da mudança;
  • Temos de ter razões para mudar que ressoam com o nosso sistema de valores, a ligação da nossa moral e ética;
  • Precisamos de intencionar praticar o comportamento;
  • Precisamos de acreditar que podemos aplicar e praticar o comportamento;
  • Há que sentir que a mudança é consistente com a nossa auto-imagem, actual ou futura;
  • Prioritizar a intenção para agir sobre todas as outras intenções ao mesmo tempo;

A um nível puramente objectivo, e portanto, totalmente observável:

  • Temos de ser suficientemente desenvolvidos ao nível cerebral (capacidades mentais) e do organismo (capacidades biológicas e físicas) para poder aplicar e praticar o comportamento;
  • Temos de possuir as habilidades necessárias;
  • Temos de ter a energia requerida e a saúde física e saúde emocional;
  • Fazê-lo - realmente comportarmo-nos como intencionado;

Mas depois também vêm as questões culturais, os nossos princípios e valores partilhados colectivamente, os nossos comportamentos partilhados aceitáveis dentro do grande grupo que formamos como cultura.

  • Há que entender aquilo que está a ser requerido (linguagem comum, contexto comum);
  • Há que entender a existência de uma pressão social para aplicar o comportamento que é maior que a pressão de não o praticar (estigma em torno do comportamento antigo e suporte ao novo comportamento);
  • Há que perspectivar e identificar o novo comportamento com uma norma social.

E por fim as nossas dinâmicas sociais, ao nível dos sistemas que temos em prática pra nos permitirmos viver juntos de uma forma “razoavelmente funcional”.

E aqui temos desejavelmente de experienciar muito menores barreiras sistémicas a aplicar o comportamento do que a não aplicá-lo (sistemas sociais e económicos de suporte), e dinâmicas que tornam fácil vivenciar e praticar o novo comportamento.

Porque aprecio não apenas abordar o tema pela via conceptual, vamos ver isto com um exemplo prático:

Escolho o exemplo da adição do tabaco. Primeiro porque ao contrário do que muitos dizem, não se trata apenas de algo que se Faz, mas de algo que alguém se Torna pela imensidão de implicações que tem nas nossas Vidas. Não se Fuma...É-Se fumador... está-Se geralmente controlado pelo vício, sujeitos à tirania dos factores aditivos. Também trago este exemplo porque é algo que pratiquei durante longos anos e, embora já me tenha liberto dele faz muitos anos também, ainda assisto à sua promoção, consumo e consequências como uma calamidade nas nossas vidas partilhadas colectivamente. Foi importante fazer o exercício porque reforçou muitas das vantagens de ter abdicado de praticar este comportamento. Vou procurar tornar conscientes tanto quanto possível as vantagens em cada uma das dimensões anteriormente referidas. E com isso vermos como a mudança pode estar amplamente suportada em perspectiva, ou seja, informada por intenção e consciência.

Exercício: Mudança de Comportamento – “Deixar de fumar”. Estímulos multi-perspectiva indutores à mudança;

E vou usar como “referência” o consumo diário de um maço de cigarros com um custo unitário de 5€.

Dimensões subjectivas, não observáveis, mas existentes:

  • Tomarmos a Decisão de Deixar de Fumar;
  • Terminar com a Vergonha por fumar, o Sentirmo-nos mal connosco mesmos;
  • Terminar com a Poluição do nosso corpo físico;
  • Acreditar que ganhamos longevidade por deixar de fumar;
  • Acreditar que ganhamos qualidade de vida por deixar de fumar;
  • Acreditar na Capacidade pessoal de deixar de fumar e não voltar a reincidir na prática;
  • Não mais precisar de me esconder atrás do fumo;
  • Não mais precisar de pôr uma cortina de fumo que me impede de ver o Mundo e aquilo que acontece à minha volta;
  • Não mais preencher os meus Vazios com algo que me destrói;
  • Valorizar o meu Bem-estar;
  • Aceitarmo-nos como somos, não precisando de fumar para pertencer a um grupo ou ter status;
  • Sentirmo-nos melhor connosco mesmo porque é maior a Força de Vontade em Deixar de Fumar que a “Força da Falta de Vontade” em manter o vício;
  • Termos mais disponibilidade para nós, porque não estamos às mercês de um “monstrinho” que nos pede “alimento dito nicotina e demais químicos”;
  • Deixamos de estar ansiosos pelo momento em que podemos estar num lugar onde seja possível fumar;
  • Gostarmos de nós sem “o adereço cigarro colocado”;
  • ...

Dimensões objectivas, observáveis;

  • Comunicar a nossa decisão de Deixar de Fumar ganhando pela exposição pública um reforço do compromisso;
  • Energia, motivação e disposição para aguentar os sintomas de “privação” inicial;
  • Unhas limpas do amarelo da nicotina;
  • Mais tempo disponível – se cada cigarro lhe demora 5m a fumar, o maço diário de referência são 100 minutos. Ao fim de um mês são 50 horas que pôde usar de outro modo. Ao fim de um ano são 600 horas. Repare na imensidão de tempo que se “ganha” por deixar de fumar. “Nós que estamos sempre a dizer que não temos tempo...”
  • Mais dinheiro disponível: Se cada maço diário custa 5€, ao fim de um mês gastam-se 150€, e ao fim de um ano 1825€. É muito dinheiro, que pode dar para nos fazer agir com dimensões mais saudáveis e felizes. Tendo em conta um salário médio liquido em Portugal de 1100€, custear o tabaco representa mais de 10% de todos os ganhos. Muito significativo. Ao fim de 10 anos são mais de 18250€. É uma fortuna só para os adquirir...71.112 cigarros em 10 anos;
  • Desaparece o mau hálito, que é muito desagradável para quem tem que estar ao pé de quem fuma. Pior para quem beija uma pessoa que fume;
  • Desaparece o cheiro na roupa, no carro, no escritório…etc;
  • Desaparecem as manchas e queimaduras na roupa, no carro e nos sofás;
  • Deixamos de criar pretextos alimentares para poder fumar - Comer para fumar;
  • Deixamos de criar interrupções no trabalho para ir fumar – pausas forçadas para fumar;
  • Não mais precisarmos de ter o cigarro aceso para ter as mãos ocupadas e estarmos distraídos…;
  • Mais clareza da nossa acção no Mundo. Estamos menos envoltos em “nevoeiro”;
  • ...

Dimensões Culturais

  • Fumar já não é visto como sinal de progresso, erudição e civilidade; É crescentemente e amplamente condenável!;
  • Fumar é visto como algo que contamina a Saúde Colectiva. Deixar de fumar promove e valoriza o Bem-estar colectivo;
  • Fumar é incitado a ser feito em locais de “segregação”. Ao deixar de Fumar passa-se a poder estar em qualquer lugar...excepto nos sítios especialmente dedicados aos fumadores…;
  • Permitir-nos provisoriamente afastar-nos dos lugares, ambientes, contextos onde haja um convite implícito a fumar e onde as pessoas se refugiem no acto de fumar intensamente;
  • Paramos de criar constrangimento àqueles que connosco convivem, nomeadamente na relação intima, na família, amigos e colegas de trabalho;
  • ...

Dimensões Sociais

  • Quem deixa de Fumar promove um ambiente mais Limpo (fumo, beatas e pacotes de cigarros que desaparecem);
  • Algumas Seguradoras penalizam os Fumadores. Deixar de fumar liberta-nos destas penalidades;
  • Deixamos de estar sujeitos a uma publicidade subtil para que se fume - por exemplo ídolos de cinema a fumar;
  • Deixamos de estar sujeitos a uma publicidade de “consciência” para que não se Fume (mensagens nos maços de tabaco tal como “Fumar Mata”);
  • Deixamos de estar limitados no uso de espaços por não mais estarmos sujeitos a segregação;
  • Deixamos de estar sujeitos às leis anti-tabaco e às multas por incumprimento.

Curioso que é fácil encontrar vantagens para estabelecer uma Mudança de Comportamento no sentido de “Deixar de Fumar”. Consegues agora fazer o exercício oposto permitindo-te encontrar a multi-perspectiva de vantagens na mudança de comportamento para “Passar a Fumar”? 

Eu não encontro qualquer vantagem...no acto de passar a fumar...

Mudemos com intenção e consciência no cumprirmo-nos na expressão mais bela de quem somos. Informados integralmente por tantas perspectivas quanto a nossa consciência nos permita. Essa consciencialização poderá, uma vez integrada, produzir novas decisões e estas levarem-nos a novas acções com novos impactos na relação que temos connosco mesmos e com os múltiplos intervenientes em elos relacionais que temos estabelecidos. A partir daí há que dar consistência aos novos comportamentos, mantendo a sua prática reflectida.

Boas mudanças, e se quiseres apoio em qualquer uma tua mudança, contacta-nos em Elos d´Eros. Estamos aqui para te apoiar.

Cultivando Amor, aos molhos, nas relações humanas.

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